Vir a Bucelas é revisitar a história!
Provar vinhos com alguma idade é demonstrar que aqui também há muitos e excelentes vinhos de guarda e com capacidade enorme de envelhecer.
Aqui, fui muito bem recebido pelo enólogo, Engº Carlos Eduardo, Dra. Maria José Viana e Adelaide Santos Cruz. Bem hajam pelo vosso tempo.
Conforme se pode verificar, as provas foram enriquecedoras e houve aqui o cuidado de diversificar diversos estilos e anos de colheita.
Nos brancos Garrafeira o meu grande destaque vai para o Bucellas Garrafeira 1998. Um vinho pleno de forma ainda, belíssima côr âmbar, que conserva alguma frescura, sem vinagre ou sinais de oxidação, com aromas de notas de compota, frutos secos, farmácia, onde o paladar de desfaz em complexidade, uma acidez ainda presente em pano de fundo, intenso, notas de geleia, caramelo ligeiro, textura lisa e um fim de boca estupendo e pleno de fruto.
Ainda em garrafa sem rótulo provei um Bucellas 2001 marcado pela madeira, quase que diria uma passagem aos terciários, com notas mentoladas, frutos tropicais maduros, tosta, apesar dos anos a excelente barrica continua muito presente, paladar muito atrativo, tornando-o num vinho com uma grande alma de sofisticação e que ombreia com pratos de carne bem temperados. O fim de boca mostra ainda a frescura do fruto, merecendo até um charuto final a acompanhar.
Dos Quinta do Boição, destaque para o Special Selection Old Vineyards Arinto Branco 2010 resultante de vinhas com mais de 40 anos ( algumas que “viram” ainda Winston Churchill ), de cor dourada, ainda com aromas vegetais, balsâmicos, pêssegos, amendoas, mineral, de perfil bem concentrado, volumoso, excelente presença na boca, untoso, fruto sempre presente, apresenta bons sinais de complexidade, notas fumadas e albuma baunilha, com comprimento final de enorme recorte.
De tintos temos em grande forma ainda ( e muito mais anos durará ), um estupendo Quinta do Boição Tinto 2000.
Bouquet de aromas muito composto, um tinto feito à moda antiga mas com toque de sofisticação e modernidade. Foi preciso aguardar meia hora de abertura para sentirmos a sua expressão em toda a amplitude e plenitude. Fruta preta madura, sem cansaço ainda, couro, grafite, madeira muito presente que preservou o seu carácter ao longo de quase 20 anos! Na boca temos pura seda, sabor intenso, frutos de muita qualidade, taninos domados, concentrado, mastigável e de final médio-longo, mas e à semelhança dos brancos, com o fruto muito presente.
Os 2001 e 2003 são surpreendentes, tendo em conta a zona, teoricamente difícil para vinhos tintos, mas que neste caso são ambos muito sofisticados, estilos muito semelhante e com muitos e bons anos de vida, assim se conservem os lotes.
Provaram-se ainda vinhos do Tejo. Aqui tive o privilégio de provar multimedalhados deste ano! Os Cabeça de Toiro, Tintos 2011, 2012, o Branco 2015 e Rosé 2015.
O Cabeça de Toiro 2011 tem uma boa tonalidade violeta escura, frutos pretos em passa, ameixa, tâmara, frutos silvestres, amoras, mirtrillos, alguma especiaria e fumados pelo meio. No paladar, os taninos estão presentes, marcantes, vinho talhado para gastronomia variada, em particular condimentada como a Ribetejana, encorpado, complexo e fim de boca bastante longo sem morrer cedo.
O branco 2015 é muito aromático, bouquet composto entre notas vegetais, espargos, erva fresca, e notas cítricas, lima, maçãs verdes e ainda com muita evolução em andamento. Na boca é muito mais interessante, frutado, de algum volume, leve, frescura sempre presente conduzindo a um fim de boca insenso e com notas florais.
Finalizou-se com 3 Quinta S. João Batista, todos de 2010 feitos respetivamente com Syrah, Touriga Nacional (Special Selection 2010), e um combinado de Cabernet Sauvignon-Touriga Nacional. O último foi a meu ver o mais interessante. Cabernet em evidência, com as características notas de pimento, especiado, tosta, frutos vermelhos, bonita cor granada escura e opaca, saboroso, fumados presentes, eucalipto, frutos silvestres, taninos muito vivos e marcantes. Bom representante da região!
Esta é uma das mil e uma experiências que o visitante pode disfrutar ao vir até Bucelas, à belíssima Loja das Caves Velhas (Enoteca) e ter um dia de provas que vale bem a pena.