História
O concelho de Carregal do Sal, situado em plena Plataforma do Mondego, num amplo maciço antigo do Planalto Beirão, e enquadrado pelos rios Dão, a Norte, e pelo Mondego, a Sul, foi sendo ocupado pelo Homem desde tempos pré-históricos, evidenciando inúmeros vestígios arqueológicos daquela época e de ocupação contínua do seu espaço, desde o Período Romano e Época Medieval, sendo actualmente um Município nascido com a reforma administrativa de Passos Manuel, a 6 de Novembro de 1836.


A importância histórica do Concelho está bem documentada em fontes escritas medievais e modernas, remontando aos alvores da nacionalidade as povoações que foram dando corpo e consistência à actual realidade económico-social e administrativa, quer através de vicissitudes históricas quer através da consolidação de uma identidade que se foi firmando ao longo dos seus séculos de existência.


Salientam-se, nomeadamente, os forais concedidos a Oliveira do Conde, pelos reis Dom Dinis em 1286 e por Dom Manuel I, em 1516, bem como as referências feitas às diversas povoações do Concelho nas Inquirições de Dom Afonso III e nas Chancelarias dos nossos primeiros monarcas, nomeadamente: Ulveyra de Conde ou Ulvaria de Conde, Travanca, Villa Mediana, Alvarelias, Cabanas, Beagios, Papizeos e Pineyro, entre outras.
Estas povoações apresentam ainda hoje uma malha de traçado medieval, depois de expurgadas algumas construções da última centúria. Aqueles antigos núcleos destacam-se, assim, pelas suas habitações, que caracterizam a construção popular antiga da região e pelos exuberantes pelourinhos que marcam aquela época, mormente o de Currelos e de Oliveira do Conde.


Nesse sentido, e já desde pelo menos a época romana, ter-se-iam construído, um pouco por todo o lado, prósperas comunidades agrícolas que foram deixando, ao longo dos tempos, marcas insofismáveis da sua presença, na paisagem.


A partir da Idade Média, todo o espaço que hoje constitui o Concelho, foi sendo dividido em propriedades senhoriais de médias e grandes dimensões, as quais foram administradas por ricas e influentes famílias (vidé “Carregal do Sal , no Coração da Beira”). Esta nobreza rural, alguma de grande importância a nível nacional, nomeadamente D. Nuno Martins da Silveira, senhor de Góis, e, seu filho, D. Luís da Silveira, guarda-mor dos Reis Dom Manuel I e Dom João III e 1º Conde de Sortelha, entre outros, foram os principais responsáveis, a par da Igreja, pela grande quantidade e diversidade do património arquitectónico existente. Dentre esse numeroso e diversificado património arquitectónico, que inclui a arquitectura religiosa, destacam-se, pela quantidade e qualidade estética, os seus imponentes solares e casas solarengas distribuídos pelas freguesias do Concelho, principalmente em Oliveira do Conde, Cabanas de Viriato, Alvarelhos e Oliveirinha, entre outros.


Resenha Histórica

Tempos Antigos

    Insere-se o Concelho de Carregal do Sal numa zona da Península Ibérica, berço da antiga Lusitânia, sendo muitos os testemunhos históricos da passagem dos primitivos invasores.

    São porém, como, aliás acontece com grande parte do solo nacional, os romanos que marca mais vincada deixaram por terras deste concelho.

    Dos antigos povos ficaram antas (Orca, Lapa da Moura, as mais importantes), achados arqueológicos em São Sebastião (freguesia de Currelos) e outros, descobertos na freguesia de Beijós, pedaços, visíveis ainda, de uma antiga estrada, nos limites da Azenha, os vestígios da via romana que ligava a hoje denominada Região de Lafões com portos mediterrâneos do sul de Espanha. Esta via atravessava o Caramulo, passando depois por terras do antigo concelho de Currelos, onde, bem perto da actual Ponte do Caldeirão, no Rio Mondego, outra teria existido, como parece atestar uma pedra de granito, dali transportada para a Póvoa de Midões (Tábua) e que , colocada na parede de um edifício, à beira da rua principal, contém, e ainda hoje se pode ver, a seguinte inscrição latina:

«IMPERATORI TITO PONTEM AEDIFICAVIT SEVERUS VIVI FILIUS» («Severo, filho de Vivo, fez a ponte ao imperador Tito»). 

    Esta via seguia depois, passando por Midões (Tábua), Bobadela (Oliveira do Hospital), rumo à Serra da Estrela, descia a Manteigas, Belmonte, seguindo depois para Mérida, capital da Lusitânia, em Espanha, e dali para Sevilha (Hispalis), e finalmente Roma, através de Cadiz e outros portos do Mediterrâneo.

    Era uma via importante de transporte de matérias – primas para Roma, como acontecia com o chumbo de Sever do Vouga e Talhadas.

    Com a invasão árabe, no tempo de Almançor, toda a região teria sido devassada, sendo de realçar, na sua passagem por este concelho, a interessante lenda que ficou da Nossa Senhora dos Carvalhais.

    Os dois extintos concelhos de – Currelos e Oliveira do Conde – tiveram o seu povoamento anterior à Nacionalidade Portuguesa, tendo sido pedaços preciosos da antiga Lusitânia.

Novo Concelho

Concelho criado pela Reforma Administrativa de Passos Manuel, em 1836 ( Decreto de 06 de Novembro), sucessor do antigo concelho de Currelos e que passou então a integrar também, por extinção, o Concelho de Oliveira do Conde.

    Em 1895, juntou-se-lhe a freguesia de Parada do então extinto concelho de São João de Areias, ficando, a partir daí, com as suas actuais dimensões.

    De notar que as freguesias de Papízios e Sobral, eram terras do termo da cidade de Viseu, que, em 06 de Novembro de 1836, se haviam também já integrado no concelho de Carregal do Sal.

    O concelho de Carregal do Sal pertencia então ao Distrito Administrativo de Coimbra e era Julgado da Comarca de Arganil. Tinha 2331 fogos (Reforma Judicial de 29 de Novembro de 1836, no Diário do Governo, nº 292, de 99/12/1836).

Origens do nome de Carregal do Sal

    A vila , sede do concelho do mesmo nome, implantada em zona plana, entre as vertentes dos Rios Mondego e Dão, estende-se cerca de 3Km ao longo da Estrada Nacional nº 234, principal eixo rodoviário de ligação com os países da Europa. A Linha do Caminho de Ferro da Beira Alta, de igual modo, a mais importante via ferroviária no campo internacional, acompanha-a em toda a sua extensão, e a estas duas vias de acesso e à sua situação geográfica invejável, se deve, em boa medida, o desenvolvimento do seu aglomerado populacional e mesmo o progresso geral de todo o concelho.

    De notar que a vila teve os seus núcleos mais antigos em locais que hoje constituem como que bairros típicos, como a Rua da Fonte, a Rodela e as Salinas, embora esta última zona se encontre hoje bastante modificada, com a edificação de prédios novos, e a remodelação e substituição das velhas construções, onde outrora se armazenava o sal, interposto abastecedor de uma vasta zona, entre o Douro e a Serra da Estrela, atravessando mesmo a fronteira de Vilar Formoso e entrando em terras de Castela, tal como se pode confirmar, em microfilmagem no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, das «Memórias Paroquiais da Freguesia de Currelos, de 1758».

    Não são muito pacíficas as correntes de opinião sobre as origens do nome de Carregal do sal. O certo, porém, é que o nome figurou apenas como Carregal até aos fins do século XIX.

    O topónimo «Carregal» teria, assim, segundo os estudiosos derivado de «Cárrega», planta ciperácia, espécie de gramínea, abundante na região, e, portanto, «Carregal», lugar onde havia «Cárrega», a que se juntaria o «sal», este devido ao cloreto de sódio, armazenado nos grandes e referidos depósitos, em local ainda hoje designado por «salinas».

    O Sal, cujo comércio consta já, em documentos de 1758, era transportado em barcos da Figueira da Foz até à Foz – Dão ( porto fluvial e povoação hoje desaparecida com a Barragem da Aguieira ) e daqui seguia, em carros de bois, até ao Carregal.

    O nome Carregal, como povoado, é, porém, muito antigo, e já figurava num documento de doação de Dom Afonso Henriques, datado de 1137, e onde também se faz referência a «Ulveira de Currelos», «Parada», «Papizenos» e «Pineirino», nomes antigos de terras hoje pertencentes ao concelho.
Aspectos Geográficos

 

O concelho de Carregal do Sal, do distrito de Viseu, localiza-se na Região Centro (NUT II) e em Dão-Lafões (NUT III). Ocupa uma área de 116,9 km2 e abrange sete freguesias: Beijos, Cabanas de Viriato, Currelos, Oliveira do Conde, Papizios, Parada e Sobral.


Este concelho apresentava, em 2005, um total de 10 490 habitantes.
O natural ou habitante de Carregal do Sal denomina-se carregalense.
O concelho encontra-se limitado a norte pelo concelho de Viseu, a noroeste pelo de Tondela, a oeste pelo de Santa Comba Dão, a este pelo de Nelas e Oliveira do Hospital (distrito de Coimbra) e a sul pelo de Tábua (distrito de Coimbra).


Possui um clima mediterrânico com feição continental, apresentando Invernos frios e Verões quentes e secos.
A sua morfologia é relativamente suave, destacando-se somente a Senhora dos Milagres, com 351 metros de altitude.


Como recursos hídricos, existem o rio Dão, o rio Mondego e as ribeiras de Cabanas e de Beijos.

História e Monumentos
Currelos era o nome do primitivo concelho, do qual foram donatários os Condes de Vila Nova de Portimão, passando mais tarde a denominar-se Carregal do Sal.


Este primitivo núcleo terá tido a sua origem aquando do domínio romano.
No século XV, D. João I doou estas terras a Fernão Gomes de Góis, camareiro-mor, o senhorio de Oliveira do Conde – por serviços prestados à coroa. O cavaleiro tem o túmulo na igreja da freguesia, sendo este considerado um dos mais notáveis monumentos funerários do país pelos motivos escultóricos que o adornam, constituindo o ex libris do concelho.
A reforma de 1836 chamou-lhe somente Carregal, com sede no lugar e freguesia de Currelos, onde se mantém.


Em Cabanas de Viriato subsistem ruínas de velhas casas solarengas e uma delas terá sido muito provavelmente o berço de Viriato.
A nível do património arquitectónico, destacam-se o Solar da Cobertinha, o Pelourinho do Casal da Torre, a Casa da Fidalga ou Solar de Alvarelhos, revestido de heras verdes, com portão brasonado e arruamentos ajardinados, que data do século XVIII, e a Igreja Matriz de Oliveira do Conde, já existente no século XII, que possui abside gótica e abóbada artesoada, e onde se encontra o referido túmulo de Fernão Gomes de Góis.

Tradições, Lendas e Curiosidades
Das manifestações populares e culturais do concelho são de destacar a festa dos Bombeiros Voluntários, que decorre entre 15 e 18 de Julho, a festa de Nossa Senhora das Febres e a festa de S. Pedro, realizada em Junho.


No artesanato, a referência vai para os trabalhos de tapeçaria (tipo Arraiolos) e de ferraria, nomeadamente os trabalhos em ferro forjado.
Como instalação cultural, de destacar o Centro Cultural de Currelos.


Como curiosidade, pode referir-se a controversa origem do topónimo deste concelho, dado que supostamente parece ter derivado da existência de armazéns de sal (desaparecidos) no local designado por Salinas, entreposto abastecedor da vasta região entre o Douro e a serra da Estrela até às terras de Castela, atravessando a fronteira de Vilar Formoso.

Economia

No concelho predominam as actividades ligadas ao sector terciário, seguidas pelas do secundário, tendo o sector primário um peso relativamente baixo.


No que se refere à agricultura, destacam-se os cultivos de cereais para grão, leguminosas secas para grão, prados temporários e culturas forrageiras, batata, olival e vinha. A pecuária tem também alguma importância, nomeadamente a criação de ovinos, coelhos e aves. Cerca de 26% (1554 ha) do seu território são cobertos de floresta.

Entre o Dão e o Mondego

 

O Concelho de Carregal do Sal foi criado pela Reforma Administrativa de Passos Manuel, a 6 de Novembro de 1836. Fica situado num amplo maciço antigo do Planalto Beirão, na denominada plataforma do Mondego, entre as Serras da Estrela e do Caramulo, tendo como fronteiras naturais, a Norte, o Rio Dão e, a Sul, o Mondego. Orograficamente é um Concelho sem grandes elevações, salientando-se as suas vertentes suaves para os vales daqueles importantes recursos fluviais, nas quais predominam as densas manchas graníticas características desta região.

 O seu topónimo derivou de uma planta ciperácea denominada de “cárrega”, ao tempo muito abundante na região, tendo mais tarde sido acrescentado “sal” devido à grande quantidade de cloreto de sódio que era armazenado em tulhas de madeira num local ainda hoje designado de Salinas. O seu transporte era feito em carros de bois para este local desde o porto fluvial da Foz-Dão.

O Município ocupa uma área de cerca de 120Km2 distribuída por sete (7) freguesias: Beijós, Cabanas de Viriato, Currelos, Oliveira do Conde, Papízios, Parada e Sobral, sendo servido por importantes vias de comunicação que lhe permitem o acesso rápido e em condições razoáveis ao resto da Europa, quer através do IP5, quer por via férrea através da Linha da Beira Alta gozando, desta forma, de uma situação geográfica privilegiada.

 Recentemente, a rede viária foi melhorada com a construção do Itinerário Complementar – IC12 (Variante do Carregal do Sal da Estrada Nacional 234) e, em termos municipais, foram igualmente construídas diversas estradas que aproximaram, significativamente, as povoações das várias freguesias e abertos inúmeros caminhos florestais.

Mercê das suas características geomorfológicas e climatéricas, o Concelho ostenta um vastíssimo e diversificado património paisagístico, arquitectónico e arqueológico que o caracteriza como um Município rico em testemunhos do passado e como um local dignamente expressivo que vale a pena visitar. De entre esse vasto património não pode deixar de ser destacado o túmulo do Cavaleiro Fernão Gomes de Góis, obra-prima do Renascimento, que pode ser visitado na Igreja Matriz de Oliveira do Conde e o Dólmen da Orca, considerado dos monumentos megalíticos melhor conservados desta região, ambos classificados como Monumentos Nacionais.

Por outro lado, o seu património arquitectónico está bem espelhado através dos seus imponentes solares e casas solarengas dispersas pelas suas freguesias de génese medieval, onde são bem patentes as características construções em granito desta região beirã. Contudo, se não forem estes os motivos para uma visita, outros os justificarão plenamente lembrando que foi em Cabanas de Viriato que residiu Aristides de Sousa Mendes, o Cônsul Português em Bordéus que, por ocasião do Holocausto nazi arriscou a própria vida ao passar inúmeros vistos, salvando a vida a milhares de judeus.

Por outro lado, a agricultura foi, desde sempre, um meio de sobrevivência por excelência, mas a evolução dos tempos e os desafios do dia a dia remeteram para segundo plano este tipo de actividade que é ainda o meio de subsistência mas da população com mais de cinquenta anos. Apenas dois produtos assumem, ainda hoje, uma significativa importância: o azeite e o famoso Vinho do Dão, de relevo no núcleo da Zona Demarcada onde se situa.

Carregal do Sal caracteriza-se como um Concelho rico em termos culturais. Disso são prova os Solares e Casas Solarengas dos séculos XVII -XVIII, as lagaretas e Túmulos rupestres espalhados por várias localidades e as alminhas que são, igualmente, prova inequívoca de um passado histórico que a Câmara Municipal insiste em preservar.

Para além destes, outros vestígios de natureza arquitectónica conferem ao Concelho de Carregal do Sal um estatuto privilegiado no que à cultura diz respeito. Anote-se a existência de monumentos de interesse nacional e que foram classificados como tal pelo Instituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológico dos quais se destaca o Dólmen da Orca em Fiais da Telha e o túmulo de Fernão Gomes de Góis na Igreja Matriz de Oliveira do Conde que atesta, entre outros, a passagem de ilustres figuras da história nacional por este Concelho.


Mas não é só de passagens de tempos longínquos que é feita a cultura do Município. A Câmara Municipal tem-se preocupado com a edificação de espaços (por exemplo, a Biblioteca Municipal inaugurada no dia 25 de Abril de 2000, o Complexo das Piscinas Municipais e mais recentemente o Museu Municipal) e com o apoio a colectividades que mantêm viva a cultura local.


De referir é, igualmente, aquele que constitui já um cartaz turístico da Região e do País – o Carnaval de Cabanas de Viriato – que sobrevive e se assume, a cada ano que passa, como um ex-libris cultural do Concelho. Ainda em Cabanas merece destaque a estátua do Cristo-Rei , bem no alto, de onde avista as casas em granito, os jardins em flor, as ruas calcetadas… E é também em Cabanas que voltamos atrás no tempo para recordar um feito notável perpetrado por um natural do Concelho – Aristides de Sousa Mendes, o Cônsul Português em Bordéus que, durante o holocausto nazi, passou inúmeros vistos salvando a vida a milhares de judeus. A casa onde viveu aquele que podemos apelidar de Óscar Schindler português vai ser recuperada para imortalizar o acto heróico deste cabanense ( o projecto já está concluído ) e ali passará a funcionar a Fundação Aristides de Sousa Mendes constituindo a justa homenagem a quem arriscou a própria vida por um ideal tão nobre.


E a oferta cultural do concelho não se fica por aqui. Não podemos esquecer as romarias e festas tradicionais que, sendo , na sua maioria, religiosas, mantêm características inéditas. Neste âmbito incluem-se as tradicionais Festas do Concelho onde se revivem tradições com a prática de jogos como a subida ao pau ensebado ou a quebra de panelas .


Em termos religiosos destacam-se outras realizações: a Festa da Senhora dos Milagres que se realiza a 15 de Agosto nas Laceiras e que traz ao Concelho um sem número de emigrantes de outras paragens e a Festa de Santo António, em Fiais da Telha, que ainda inclui o desfile em corrida de rebanhos de ovelhas enfeitadas e que só termina quando cada rebanho circunda, por completo, a Igreja desenhando um círculo.

 Património Arqueológico

A actual área geográfico-administrativa que integra o concelho de Carregal do Sal é, pela sua génese geomorfológica e orográfica, um espaço que viria a proporcionar excelentes condições naturais de fixação humana, já desde o período Pré-histórico, sendo, no presente, um facto comprovado pelo elevado e diversificado número de testemunhos arqueológicos inventariados atribuíveis aos Períodos Neolítico, Calcolítico e Idade do Bronze, passando pelos vestígios de ocupação romana, até à Idade Média.
Da nobreza como virtude rara – Aristides de Sousa Mendes

Aristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches nasceu em Cabanas de Viriato, concelho de Carregal do Sal, a 18 de Julho de 1885. Licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra em 1907, tendo seguido a carreira diplomática que o levou a assumir postos em Zanzibar, Curitiba, São Francisco da Califórnia, Boston, São Luís do Maranhão, Porto Alegre, Vigo, Antuérpia e Bordéus.


Nesta última cidade assistiu à fuga ao holocausto nazi em 1940. Tendo-lhe sido revelado o horror humano que se perpetrava, desobedecendo às instruções de Salazar, passou milhares de vistos para refugiados, salvando mais de 30 mil pessoas, que assim puderam escapar ao extermínio alemão. Fê-lo sabendo que sacrificava o seu próprio futuro e o da sua família. Foi deposto e marginalizado. Impedido de trabalhar, morreu arruinado em Lisboa em 1954. Os seus filhos, alguns dos quais também perseguidos pelo Estado Novo, refugiaram-se no estrangeiro. Dois deles combateram pelos aliados, participando no desembarque da Normandia. Sousa Mendes casara em 1908 com sua prima direita Maria Angelina Ribeiro de Abranches, cujo pai era irmão de seu pai e sua mãe irmã de sua mãe. Deste casamento teve 14 filhos, 12 dos quais chegaram à idade adulta. Era filho de José de Sousa Mendes, que foi juiz desembargador da Relação de Coimbra, e de sua mulher, Maria Angelina Ribeiro de Abranches de Abreu Castelo-Branco. Teve dois irmãos, um dos quais seu gémeo, César de Sousa Mendes, que consigo se licenciou em Direito, e foi igualmente diplomata. Descendia de importantes famílias da Beira. Consta de algumas fontes que Sousa Mendes tinha ascendência cristã-nova, mas esse facto não se comprova. Aliás o seu feito heróico salvou todos os que se lhe aproximaram, independentemente de credos ou raças. A comunidade judaica internacional jamais o esqueceu, apoiando-o e aos seus descendentes no exílio, e recordando as suas acções.

Foram seus avós paternos Raquel Augusta Mendes da Gama e Manuel Alves de Sousa, filho de António Francisco Álvares Aranha e Teresa Maria Sousa, de Muxagata, distrito da Guarda. Seu avô materno foi Silvério Coelho Pais do Amaral, filho de António Coelho do Amaral e Luísa de Barros, de Beijós (em Carregal do Sal) e sua avó foi Maria dos Prazeres Ribeiro de Abranches, filha do 2.º visconde de Midões César Ribeiro de Abranches Castelo-Branco, comendador da ordem de Nossa Senhora de Vila Viçosa. Este era filho do 1.º visconde de Midões Roque Ribeiro de Abranches Castelo-Branco, nascido em Midões, concelho de Tábua, em 1770. Foram pais do 1.º visconde Teresa Leonor de Vasconcelos e Sotomaior de Mendonça, da casa dos morgados e depois condes de Santa Eulália, em Seia e seu marido Luís Ribeiro de Abreu Castelo Branco, filho de Roque Ribeiro de Abreu, cavaleiro da Ordem de Cristo e Familiar do Santo Ofício. Era este último trineto de Mécia da Cunha, herdeira da antiquíssima casa de Tábua de que foi 10.ª senhora, e de seu marido, Pedro Gomes de Abreu, filho do bispo de Viseu João Gomes de Abreu e de D. Beatriz de Eça, bisneta por varonia do rei D. Pedro I e de D. Inês de Castro.

Carregal do Sal caracteriza-se como um Concelho rico em termos culturais. Disso são prova os Solares e Casas Solarengas dos séculos XVII -XVIII, as lagaretas e Túmulos rupestres espalhados por várias localidades e as alminhas que são, igualmente, prova inequívoca de um passado histórico que a Câmara Municipal insiste em preservar.

Para além destes, outros vestígios de natureza arquitectónica conferem ao Concelho de Carregal do Sal um estatuto privilegiado no que à cultura diz respeito. Anote-se a existência de monumentos de interesse nacional e que foram classificados como tal pelo Instituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológico dos quais se destaca o Dólmen da Orca em Fiais da Telha e o túmulo de Fernão Gomes de Góis na Igreja Matriz de Oliveira do Conde que atesta, entre outros, a passagem de ilustres figuras da história nacional por este Concelho.
Mas não é só de passagens de tempos longínquos que é feita a cultura do Município. A Câmara Municipal tem-se preocupado com a edificação de espaços (por exemplo, a Biblioteca Municipal inaugurada no dia 25 de Abril de 2000, o Complexo das Piscinas Municipais e mais recentemente o Museu Municipal) e com o apoio a colectividades que mantêm viva a cultura local.
De referir é, igualmente, aquele que constitui já um cartaz turístico da Região e do País – o Carnaval de Cabanas de Viriato – que sobrevive e se assume, a cada ano que passa, como um ex-libris cultural do Concelho. Ainda em Cabanas merece destaque a estátua do Cristo-Rei , bem no alto, de onde avista as casas em granito, os jardins em flor, as ruas calcetadas… E é também em Cabanas que voltamos atrás no tempo para recordar um feito notável perpetrado por um natural do Concelho – Aristides de Sousa Mendes, o Cônsul Português em Bordéus que, durante o holocausto nazi, passou inúmeros vistos salvando a vida a milhares de judeus. A casa onde viveu aquele que podemos apelidar de Óscar Schindler português vai ser recuperada para imortalizar o acto heróico deste cabanense ( o projecto já está concluído ) e ali passará a funcionar a Fundação Aristides de Sousa Mendes constituindo a justa homenagem a quem arriscou a própria vida por um ideal tão nobre.
E a oferta cultural do concelho não se fica por aqui. Não podemos esquecer as romarias e festas tradicionais que, sendo , na sua maioria, religiosas, mantêm características inéditas. Neste âmbito incluem-se as tradicionais Festas do Concelho onde se revivem tradições com a prática de jogos como a subida ao pau ensebado ou a quebra de panelas .
Em termos religiosos destacam-se outras realizações: a Festa da Senhora dos Milagres que se realiza a 15 de Agosto nas Laceiras e que traz ao Concelho um sem número de emigrantes de outras paragens e a Festa de Santo António, em Fiais da Telha, que ainda inclui o desfile em corrida de rebanhos de ovelhas enfeitadas e que só termina quando cada rebanho circunda, por completo, a Igreja desenhando um círculo.

CABANAS DE VIRIATO

 
É uma povoação muito antiga, que

pertenceu ao extinto concelho de

Oliveira do Conde.

Esta freguesia     é      constituída    por

um     conjunto    de    vários núcleos ou

pequenos    povos       

( Pedrógão, Aido, Outeiro de Baixo,

Outeiro de Cima, Casaínhos, Cerejeirinha,

Cerca e Fundo de Vila) que, no seu todo,

é hoje uma vila  importante, bastante

populosa e que se vem desenvolvendo

de forma acentuada. Nos últimos anos

surgiram novos arruamentos e

urbanizações, tornando assim notório o

seu real desenvolvimento.

    Apesar de não se conhecer muito

sobre a sua história antiga, existem

documentos que a ela fazem referência

no ano de 1289.

    São Cristóvão é, desde longa data, o

padroeiro da Paróquia. Sabe-se que da

Igreja de São Cristóvão de Cabanas

tomou posse, em 1524, D. Luís da Silveira,

1º Conde de Sortelha, e D. Diogo da

Silveira, seu filho, 2º Conde, em 1558. Em

1649 tomou posse das rendas e

padroado de Cabanas o 2º Conde de

Figueiró, D. Pedro de Lancastre, em nome

de seu filho D. José Luís de Lancastre, por

morte da mãe.

    Cabanas tem dois cruzeiros com

interesse e várias sepulturas pré-romanas

abertas nos rochedos, sendo de assinalar

num só local, a Soila, quatro sepulturas

juntas e outra a escassos metros.

    Constitui motivo de interesse a

conhecida Lapa da Moura, que é formada

por um penedo sobre o outro,

prodigiosamente equilibrado, dando a

ideia de cavalete ou bigorna.

    Tem Cabanas um imponente

monumento a Cristo-Rei, que foi trazido

da Bélgica, em blocos, pelo então cônsul

de Portugal naquele País, Dr. Aristides de

Sousa Mendes do Amaral e Abranches,

homem de rara sensibilidade artística, bem

vincada na sua antiga moradia e quinta de

São Cristóvão, onde hoje, em local

urbanizado e aprazível, constituindo um

belo miradouro, foi implantado o referido

monumento.

    Dr. Aristides de Sousa Mendes do

Amaral e Abranches, foi cônsul de

Portugal em Bordéus, desobedecendo,

por razões de consciência, às ordens do

governo de Salazar, em 1940, concedeu

vistos a milhares de Judeus que fugiram

da França, para escaparem às

perseguições nazis, salvando-os assim do

holocausto, o que lhe valeu a expulsão

da carreira diplomática e a impossibilidade

de exercer a advocacia, caindo

gradualmente na miséria.

    A atestar de Cabanas, o seu passado

distante, ainda hoje se pode examinar o

antigo casario de alguns dos seus povos

e várias casas solarengas ou

abrasonadas, como a que foi, e hoje

reconstruída, do famigerado

Administrador do Concelho (1850-1855)

António Soares de Albergaria, com capela

privativa, a Casa Alarcão, também com

capela privativa, restaurada há poucos

anos, a casa dos Viscondes de Midões,

Ribeiros Abranches, Senhores da Várzea,

restaurada, restando da traça antiga a

cozinha com sua imponente chaminé,

estilo Renascença, artisticamente lavrada

e com a bonita capela devotada a Santa

Eufémia, tendo na fachada o brasão dos

Viscondes e hoje pertença de um

particular, a casa dos Bernardes de

Miranda, tipo abrasonado, com a capela

do Casa, datada de 1726, a casa com

brasão dos Silvérios Lobo, com

interessante e antiga Capela da Senhora

do Amparo, que foi do Morgado de Fróis,

havendo ainda pela sua vetustez (

construção do século XVI ) a casa dos

Teles do vale e a bonita vivenda dos

Teixeiras de Abreu.

    E, como, em geral, todo o concelho,

Cabanas é terra de gente alegre e foliona,

sendo de realçar o seu animado e

concorrido Carnaval de velhas tradições,

cartaz genuíno e muito conhecido pela

sua «Dança Grande» ou «Dança dos Cus».
FONTES: CM Carregal do Sal, JF Cabanas de Viriato e www.prof2000.pt.