Assim que soubemos do desaparecimento de mais um vulto da sétima arte (Sean Connery 1930-2020), vem à memória da presença do Vinho no cinema, como no caso da saga do James Bond e dos filmes 007, logo quando escrevemos o título “Sean Connery, o tinto e o peixe” aproveitamos o dois em um, abordar um mito ou afirmação com a qual não concordamos em absoluto e principalmente prestar a justa homenagem ao Sir Sean Connery pelos 50 anos dedicados ao cinema e a sua longa vida de 90 anos.
Aos longo das várias versões do “herói” James Bond e dos filmes 007 além de várias bebidas, sempre houve presença assídua de boas referências de Vinho, apenas com uma lacuna, a ausência de Vinhos Portugueses, embora quem ficou a perder foi o público em geral que assistia aos filmes e os protagonistas da saga.
Presença de boas referências vínicas no cinema
Apesar da reconhecida lacuna nestes filmes há que admitir o bom gosto com vinhos e Champagne, a boa escolha observada nos vários filmes era inegável.
Desde 1962 que se encontram boas e óptimas referências vínicas, desde o primeiro filme “O Satânico Dr. No” e também o primeiro romance de Ian Fleming em “Casino Royale”, podemos assistir ao James Bond demonstrar um bom gosto, até em certa medida, um gosto refinado como é característica do personagem.
Aliás registamos a predilecção do habitual herói por grandes Bordeaux, mas, principalmente, por Champagne, nomeadamente o conhecido Dom Pérignon, obviamente.
O Champagne que tem o nome do famoso monge beneditino que terá alegadamente inventado a “fórmula” dos espumantes da região de Champagne, no nordeste de França, surge em pelo menos mais de meia dúzia das peliculas.
Algumas cenas que envolvem Vinho, são memoráveis, nomeadamente no “007 – O Espião que me amava”, o James Bond, interpretado na época por Roger Moore, declara após matar o vilão e encontrar uma garrafa: “Talvez eu tenha julgado mal Stromberg (personagem vilão). Qualquer homem que bebe Dom Pérignon 52 não pode ser de todo mau”.
Em todo o caso, podemos concluir que a relação mais duradoura do agente secreto é com outra marca de Champagne, nomeadamente a Bollinger, cuja a marca aparece em quase todos os filmes, inclusive nos mais recentes.

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Mas como referido de início, não foi só champagne que marcou presença, podemos ver outras escolhas, revelando-se de facto uma personagem com bom gosto para bebidas e não só.
Sean Connery, o tinto e o peixe.
Agora aquela frase mais “polémica” envolvendo Vinho é sem dúvida pronunciada pelo charmoso, eloquente e magnifico actor Sean Connery que acaba de nos deixar.
Numa determinada cena do filme Moscou contra 007 (From Rússia with Love), James Bond é protagonizado por Sean Connery, e este é atacado por Red Grant (Robert Shaw) com uma coronhada, após um jantar regado a vinho e peixe no vagão-restaurante de um comboio.
Durante a referida refeição o Agente 007 pede um blanc de blancs, o opositor opta por um Vinho Tinto (v.g. chianti).
Depois de agredido, James Bond olha no seu adversário e recorda a fatídica escolha: “Vinho tinto e peixe.” E conclui seu raciocínio: “Isso diz muita coisa”.
Sean Connery que desculpe, mas não concordamos nada com a afirmação de que um Vinho Tinto não possa ser boa ligação com peixe, embora seja preferível não arriscar optando por Vinho Branco, e claramente é sempre mais seguro, mas o tinto também pode acompanhar uma bela refeição de peixe.
E naturalmente que harmonizar Vinho tinto com peixe não é um sintoma de personalidade má ou mau carácter.
Embora haja quem considere um pecado grave, porventura mortal, o certo é que o personagem passa a mensagem que se deve desconfiar de quem propõe ou realiza tal harmonização.
Talvez um pouco excessivo considerar um crime de lesa pátria, mas nem tudo é certo ou errado, quando se trata do gosto pessoal e das possibilidades da harmonização entre vinho e a comida, ainda por cima quando falamos de Vinhos Portugueses, que umas das suas características mais competitivas é capacidades de os nossos Vinhos acompanharem comida, seja peixe ou carne, brancos e tintos.
Aqui neste portal, muito tem sido abordado sobre a ligação da comida com o Vinho, desde o fundador Jorge Cipriano entre outros colaboradores e convidados, em que se conclui que os Vinhos brancos podem ser a companhia ideal para refeições com peixe, bacalhau, marisco, mas isso não significa que se possa levar para a mesa um Vinho tinto mais leve a acompanhar uma refeição com peixe.
Em suma, agradecemos muito o legado que herdamos desta figura maior do cinema, mas podemos rever todas as suas actuações, e este artigo “Sean Connery, o tinto e o peixe” é uma oportunidade para prestar justa homenagem e desmontar mais uma ideia que pode não ser consensual, mas não deverá ser tida como certa e definitiva.
Quando a alguém quiser servir um Vinho tinto com peixe, procure aqui exemplos ou arrisque, a não ser que esteja na presença de um qualquer James Bond que siga a afirmação do saudoso Sean Connery.
Por fim, uma palavra final ao homenageado, uma figura ímpar, gratidão e um brinde com um qualquer bom Vinho Português.