A história do Vinho dos Mortos remonta às invasões napoleónicas do início do século XIX. Em 1808, com o avanço das tropas francesas sobre Trás-os-Montes, os viticultores de Boticas esconderam as garrafas de vinho enterrando-as no saibro das adegas, debaixo de pipas e lagares, para evitarem o saque. Ao desenterrá-las após os combates, descobriram não um vinho estragado, mas sim uma bebida consideravelmente mais saborosa, com características únicas. É um vinho de graduação alcoólica baixa, cerca de 10 a 11 graus, de cor “palhete” e leve gaseificação natural, resultado das condições constantes de temperatura e escuridão.
Da Lenda à Tradição
Com o tempo a tradição quase desapareceu, mas foi recuperada graças à iniciativa da Cooperativa Agrícola de Boticas (CAPOLIB) e da Câmara Municipal. Foram lançados projetos para preservar este vinho, incluindo a criação do Repositório Histórico do Vinho dos Mortos, um museu dedicado à história e processo de produção local.
Processo de Produção Atual
Hoje, o Vinho dos Mortos é classificado como Vinho Regional Transmontano e produzido nas encostas de Boticas e freguesias próximas como Granja, Pinho, Bessa, Valdegas e Sapelas. O processo inclui
Vindima tardia no início de outubro, seguida de pisada e fermentação inicial em lagares durante alguns dias
Segunda fermentação nas pipas, certificação e engarrafamento
Enterramento das garrafas, cobertas com saibro, em ambiente escuro e com temperatura constante, durante cerca de seis meses
Abertura da colheita no verão seguinte
Características Sensorias
Este vinho é leve e fresco, com acidez pronunciada, notas de frutos vermelhos e subtis aromas de mel. Apresenta gás natural que lhe confere vivacidade e utiliza castas como Bastardo, Tinta Roriz, Touriga Franca e Touriga Nacional. Deve ser servido a cerca de 14 °C.
Património Vivo e Enoturismo
Atualmente o Vinho dos Mortos representa muito mais do que um produto especial. É um símbolo da resiliência e criatividade do povo de Boticas. A produção anual é limitada e a comercialização acontece em adegas locais, na loja online da comunidade e em algumas garrafeiras nacionais. O enoturismo associa a vindima a festas populares, visitas guiadas, provas de vinho e estadias na região, reforçando o valor cultural e económico deste património.