Nos passados dias 5 e 6 de dezembro, Portalegre voltou a receber o evento Vinhos de Altitude – Serra de São Mamede, uma celebração do que a sub-região de Portalegre tem de mais distinto, vinhos frescos, vibrantes, cheios de identidade e moldados pela altitude e pelos solos graníticos que tornam esta zona única no panorama nacional.
O Clube de Vinhos Portugueses esteve presente a convite da organização e constatou, mais uma vez, que a qualidade dos vinhos desta região está a crescer de forma notável. Ano após ano, os produtores de Portalegre demonstram que o Alentejo não se faz apenas de planícies cálidas, mas também de serranias frescas onde a vinha respira outro ritmo e produz vinhos de nível internacional.
O terroir que desafia expectativas
A sub-região de Portalegre, integrada na DOC Alentejo, é simultaneamente uma das mais pequenas e uma das mais surpreendentes. Conta com apenas 640 hectares de vinha e cerca de 170 viticultores, representando pouco mais de 3% da área total do Alentejo. Mas o que lhe falta em dimensão sobra em personalidade.
Aqui, o clima é mais fresco, as amplitudes térmicas são maiores, e os solos são maioritariamente graníticos e de quartzo, criando condições excecionais para produzir vinhos com:
• acidez natural mais elevada
• elegância aromática
• estrutura afinada
• longevidade acima da média no contexto alentejano
É este perfil diferenciador que o evento Vinhos de Altitude, criado em 2021, procura celebrar e divulgar.
Um palco histórico para duas dezenas de produtores

A Igreja de São Francisco, no coração de Portalegre, voltou a transformar-se num cenário imponente e acolhedor para esta 4.ª edição. Cerca de 20 produtores apresentaram mais de uma centena de vinhos em prova, entre clássicos já bem conhecidos e novidades que prometem marcar o futuro da sub-região.
Entre os presentes estiveram:
Adega de Portalegre Winery, Adega Mayor, Altas Quintas, Cabeças do Reguengo, Casa da Urra, Dois Marias, Folha do Meio Vinhos, Herdade da Malhadinha Nova, Howard’s Folly, Monte da Penha, Monte do João Martins, Portela de Marvão, Pupa Vinhos, Quinta da Fonte Souto, Quinta das Toroas, Regalengu, Reynolds Wine Growers, Sericaia, Serra de S. Mamede & Friends, Tapada do Chaves, Turimenha.
A diversidade apresentada confirma o dinamismo crescente deste terroir, vinhos brancos com mineralidade entusiasmante, tintos finos e profundamente gastronómicos e até propostas mais experimentais que mostram a ousadia de uma nova geração de produtores.
Gastronomia com altitude e atitude
Ao lado do espaço de prova, o parque descoberto do Convento de São Francisco acolheu o conceito “Vinhos de Altitude & Chefs com Atitude”, uma zona inteiramente dedicada à cozinha de autor.
Os chefs José Júlio Vintém, Duarte Gueifão, Tânia Florentino e Luís Realinho apresentaram pratos que honraram os produtos da região, sempre com um toque criativo que elevou a experiência dos visitantes. A ligação entre gastronomia e vinho foi claramente um dos pontos altos do evento.
Palestras, conversas e cultura
O ciclo “Palestras & Conversas” contou com nomes de peso, entre eles o sommelier Manuel Moreira, que apresentou uma conferência muito bem recebida pelo público.
Duas mesas-redondas abordaram temas centrais para o futuro da viticultura:
• Os desafios das alterações climáticas, especialmente relevantes numa região de altitude cuja frescura natural se está a tornar ainda mais estratégica.
• A importância do enoturismo como motor de desenvolvimento económico e cultural para o Alto Alentejo.
Além do vinho e da gastronomia, o evento integrou também um forte componente artístico com momentos de dança contemporânea, música tradicional, jazz, flamenco, música de câmara e performances de artistas locais e convidados.
O papel da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo
Parceira fundamental desta iniciativa, a Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo continua a apostar na promoção integrada do território, reconhecendo no enoturismo um produto estratégico para o futuro da região. A edição deste ano fez parte da Estratégia de Eficiência Coletiva PROVERE ENOTUR, com financiamento do Alentejo 2030, Portugal 2030 e União Europeia, reforçando a aposta no turismo sustentável, qualificado e diferenciador.
Top 8 Produtores a Não Perder — Vinhos de Altitude 2025
Nesta edição selecionei os 8 produtores que na minha opinião não podemos perder de vista nos próximos tempos por terem apresentado vinhos extraordinários.
1. Altas Quintas
Referência incontornável de Portalegre, trabalha exclusivamente vinhos de altitude com perfis elegantes, frescos e longevos. Os tintos mostram sempre grande tensão e precisão, enquanto os brancos revelam mineralidade vibrante e uma capacidade de evolução notável.
2. Adega de Portalegre Winery
Um dos nomes mais emblemáticos da Serra de São Mamede, com vinhas velhas de altitude que originam vinhos profundos, intensos e complexos. É talvez o produtor que melhor traduz o caráter histórico de Portalegre em cada garrafa.
3. Pupa Vinhos
Projeto jovem mas já muito respeitado, combina precisão técnica com um olhar contemporâneo sobre a região. Os vinhos destacam-se pela pureza aromática, frescura natural e um estilo moderno que continua fiel ao terroir.
4. Dois Marias
Uma das revelações da sub-região. Produz vinhos de pequena escala, muito cuidados, com foco na autenticidade e na expressão das castas tradicionais. Os brancos são especialmente surpreendentes, sempre tensos e gastronómicos.
5. Herdade da Malhadinha Nova
Apesar de ser amplamente reconhecida no panorama alentejano, em Portalegre tem vindo a apresentar interpretações mais frescas e elegantes. Prova de que a altitude permite ao produtor revelar um lado distinto, sofisticado e extremamente equilibrado.
6. Tapada do Chaves
Património vivo do Alentejo, com algumas das vinhas mais antigas do país. Os seus vinhos têm uma profundidade e uma identidade únicas, combinando tradição, consistência e uma assinatura que é imediatamente reconhecível no copo.
7. Rengalengu
Projeto muito interessante que aposta em vinhos expressivos, tensos e com forte ligação ao solo granítico da Serra de São Mamede. Os perfis são elegantes, frescos e cheios de carácter, perfeitos para quem procura diferenciação.
8. Adega Mayor
A marca arquitetónica de Siza Vieira esconde vinhos cada vez mais refinados na sua expressão de altitude. Brancos muito diretos e minerais, tintos equilibrados e gastronómicos, tudo com a elegância que caracteriza a casa.


