Entre as serranias da Cabreira e do Marão, num extenso vale que ocupa mais de 18km no sentido mais longo e 8km de largo, mesmo à margem do Rio Tâmega, encontra-se Cabeceiras de Basto, um dos mais antigos e históricos concelhos do Minho.

Cabeceiras de Basto é uma terra antiga e por isso uma terra sábia. Uma terra que soube preservar a paisagem na qual convivem o Minho e Trás-os-Montes.

Riquezas de um lado, riquezas do outro, este concelho apresenta um vasto património paisagístico e arquitectónico, cunhado pelas marcas, pelos saberes e sabores tradicionais, testemunhos de um povo e do seu modus vivendi.

Integrado nas Terras de Basto, pequena sub-região com características individualizantes e próprias, outrora uma vasta circunscrição administrativa na bacia média do Tâmega, já em 1258 estava organizada com três julgados: o de Cabeceiras de Basto, o de Celorico de Basto e o de Amarante.

Este último, quase limitado á sua Villa e a Telões, onde se haviam implantado vários mosteiros e uma importante fidalguia medieval.

 Em 1220 esta circunscrição compreendia ainda Mondim de Basto, algumas localidades dos concelhos de Amarante e Felgueiras, Ribeira de Pena e Vieira do Minho.

Actualmente abrange uma área territorial de 239km2 por onde se espalham 17 freguesias com uma população de cerca de 18 mil habitantes.

Mas a história do concelho perde-se no tempo.

Apesar de da pouca informação existente sobre o seu primitivo povoamento, vários achados arqueológicos permitem dizer, com convicção, que Cabeceiras de Basto remonta a um período anterior a Cristo, nomeadamente a épocas pré-românicas, senão antes, pela existência de vestígios castrenses e construções dolménicas.

Também a arqueologia, nos desvenda outras informações através das ruínas do Mosteiro de St.ª Comba, onde se supõe terá existido, um tempo de vestais.

Os objectos de cerâmica e inscrições achadas, as estátuas de guerreiros e as moedas de prata e bronze com as efígies de Augusto, Galliano e Constantino dão força á tese da existência da povoação no tempo dos romanos.

A própria etimologia de Cabeceiras de Basto, apesar de controversa, leva-nos a crer que o primeiro povo que deu o nome à região foram os Bastos (Bástulos ou bastianos) que, oriundos da Andaluzia, passaram por esta bela província de Entre Douro e Minho e fundaram uma cidade chamada Basto, que se localizava próxima do Mosteiro de Santa Senhorinha, cuja presença árabe nestas terras, se encarregou de destruir.

Corria o ano de 711.

Daí que, com Cabeceiras no sentido de cabeça destas antigas regiões e Basto de Bástulos, se explique a designação deste concelho.

No entanto, entre o século XII e XVI, é praticamente inexistente a documentação escrita sobre Cabeceiras de Basto.

Apesar de se tratar de uma povoação antiga, que gozava de grande prosperidade, como atesta o Mosteiro de S. Miguel de Refojos, outrora o mais rico do Minho, só em 1514 é que Cabeceiras vê criado o concelho, por Foral de D. Manuel I.

 Foi, igualmente, um importante centro de peregrinação na Idade Média.

 Por este motivo a ele se associaram nomes de santos, nobres e guerreiros como são o caso de Santa Senhorinha de Basto, D. Pedro, D. Inês de Castro, D. Nuno Álvares Pereira, que aqui casou em 1376.

Aqui passaram, também, nomes de vulto ligados à literatura como Sá de Miranda com a obra “Carta a D. António Pereira”, senhor de Basto, Bernardim Ribeiro e Camilo Castelo Branco, com várias das suas obras a referirem Cabeceiras de Basto, nomeadamente, a “Bruxa de Monte Cordova” e “Noites de Lamego”.

No entanto, além desta vertente cultural, quando percorremos o concelho de Cabeceiras de Basto deparamos com uma série de monumentos, alguns dos quais, de interesse nacional (como é o caso do Mosteiro de S. Miguel de Refojos e a Ponte de Cavez) e casas solarengas datadas, a maioria delas, dos séculos XVII, XVIII e XIX, que conferem à região um cunho ímpar e, simultaneamente, desvendam alguns dos segredos que a história guardou das gentes que por aqui passaram.

Construções que, por montes e vales, vão pincelando este quadro de grande beleza, reflexos das marcas dos tempo, das vivências dos povos que desde a antiguidade o elegeram para viver.

Consequentemente, aos elegerem esta terra para viver, nela construíram lugares da memória, lugares da nossa identidade, nos quais o tempo registou os itinerários, os sítios e os vestígios, as coisas e o que delas pensavam, as gerações que nos antecederam.

Assim, e após um levantamento exaustivo do património edificado, quer pela sua beleza, quer por constituírem um marco histórico, destacam-se:

•Mosteiro S. Miguel e Pelourinho das Pereiras – freguesia de Refojos

•Casa da Portela e Ponte Velha – freguesia do Arco de Baúlhe

•Casa do Forno e Igreja de Stª. Senhorinha – freguesia de Basto

•Casa da Torre – freguesia de Alvite

•Casa da Taipa – freguesia de Outeiro

•Casa do Casal e Casa da Breia – freguesia de Cabeceiras de Basto (S. Nicolau)

•Casa de Pedraça – freguesia de Pedraça

•Casa do Tronco ou da Torre do Tronco – freguesia de Abadim

•Ponte de Cavez – freguesia de Cavez

•Casa da Tojeira – freguesia da Faia

•(…)

Contudo, outros locais existem que importa referir, pela sua genuinidade e pelas marcas registadas, que, apesar de se afastarem das características gerais da região, são determinantes para um estudo preciso e completo do concelho.

Exemplo disso são as aldeias de Carrazedo, na freguesia de Bucos, e as casas rurais localizadas no Vilar e no Samão, cuja conjuntura se reveste de grande interesse para a salvaguarda do património existente, bem como para a sua área envolvente.

De salientar também, a existência de vários locais cuja origem remonta à época pré-histórica.

É o caso, e tal como comprova a arqueologia, dos vestígios encontrados na zona de Chacim e Outeirinho de Mouros, na freguesia de Refojos, em Formigueiro, na freguesia de Riodouro, e que constituem, um testemunho do tempo, de grande significado e importância histórica.

De referir também a existência de testemunhos da época medieval encontrados no Lugar de Eiró, freguesia de Riodouro, que tudo indica, e tendo em conta as suas características arquitectónico-construtivas, tratar-se de uma construção tipo “mota” da qual se encontram exemplos de extraordinária semelhança na região francesa da Bretanha, onde foram comuns no séc. XI e XII.

Em Portugal deve ter sido ocupado durante o século XIII. Este tipo de construção, de grande valor histórico-cultural regional, pelos contextos sociais e históricos que evoca, traduz-se num excepcional exemplar de arquitectura senhorial fortificada, dos séculos centrais da Idade Média em Portugal.

Também o local pré-histórico de Lameiras Chãs, freguesia de Cabeceiras de Basto, concentra diversos vestígios de ocupação antiga, certamente correspondentes à pré-história, reveladores de uma distinta modalidade de apropriação e exploração do espaço.

Pelas suas características e pela diversidade funcional, e ainda pelos vestígios arqueológicos que aí se implantam, traduz-se num excelente exemplo de uma boa obra conjunta do ser humano e da natureza que se constitui de valor inegável para a compreensão humana da região durante a pré-história.

Já anteriormente referido, o povoado proto-histórico de Formigueiro, freguesia de Riodouro, é o único do género conhecido na Serra da Cabreira, tanto pela morfologia, como pela altitude em que se situa, bem como pela eventual associação, com evidências arqueológicas do tipo “megalítico”.

Constitui assim um testemunho importante da ocupação antiga dos espaços serranos da região, com grande interesse etnográfico e paisagístico, onde persistem as características desde o tempo da fixação medieval.

FONTE: C.M. Cabeceiras de Basto