Há viagens imperdíveis, impossíveis de não fazer ou levar a cabo. Obrigatórias peregrinações que marcam uma vida. Passeios, excursões e romarias. Roteiros que começam sem olhar para trás como barco que larga rumo ao breu da noite. 

Mas às vezes, infelizmente, prestamos uma excessiva vassalagem às rotinas diárias. Esquecemos a aventura e não nos permitimos a ir. Apenas ir. Ir rumo ao prazer, à descoberta das sensações, à exploração dos sentidos.

Partir numa jornada de mudança. Entrar numa quinta vinícola para andar na vinha, pisar o chão e as uvas. Beber no cheiro da adega, ouvir relatos na primeira pessoa e imaginar. Prestar homenagem aos valentes que em milhares de anos de história entregaram a suas vidas ao vinho. Gente que em nenhum momento construiu ou herdou um negócio mas antes aceitou o chamamento para um missão. Assim se explica que o milagre do vinho seja tão importante como o milagre do pão.

Uma mesa, uma garrafa de vinho e boa conversa. Uma amizade que nasce, uma cumplicidade que se cimenta e um segredo revelado.

Lá diz o ditado: “in vino veritas”.

Portugal é um pais abençoado. Milhares de quilómetros quadrados de terreno fértil e diversificado, um verdadeiro sortido da natureza que nos permite produzir, em tão pequeno território, uma vertiginosa variedade de vinhos. Uma industria de ponta com profissionais altamente qualificados e alma. Muita alma. Alma e muita vontade de receber e dar a provar. Visitas que podemos fazer num fim-de-semana primaveril ou simplesmente saborear quando abrimos uma garrafa. Visitar caves vinícolas é como entrar na casa de alguém que nos abre a porta do coração. Coração que nos recebe e ensina, explica e transmite o saber secular de tão nobre arte.

Infelizmente vivemos um período de exceção, de pandemia e desafio às nossas capacidades de isolamento. É hora de recolhimento e reflexão. Mas o afastamento não me vai tirar esta fixação de conhecer as vinhas do meu pais. De ir. Ir nessa aventura para provar o néctar e conhecer a história.  De viajar através dos tempos e trazer a estas linhas o sumo da viagem.  Sugerir experiências e discutir. Discutir conversando, conversando com quem lê enquanto rega o gosto de conhecer mais.

VAI COM VINHO que na próxima semana vamos descobrir que atrás de um grande vinho vive uma gigante e generosa alma humana.

 

Tristão de Andrade