O Fernão Pires ou Fernão Pirão de Almeirim

Este artigo sobre o Fernão Pires ou Fernão Pirão de Almeirim é uma adaptação duma apresentação dos professores do ISA Malfeito Ferreira e Virgílio Loureiro.

Decorrente do Simpósio Vitivinícola de Almeirim realizado em 2015 este apontamento foi apresentado durante este certame.

Com o Prof. Malfeito Ferreira

Com o Prof. Malfeito Ferreira

Foi porventura dos assuntos que mais’ suscitou interesse entre os presentes, até porque uma apresentação foi divinal e o Professor Malfeito Ferreira consegui concentrar atenções.

Constitui uma revisitação à história e a passados não muito remotos que nos permite entender a importância sobre o Fernão Pires ou Fernão Pirão.

Com o Sr. Prof. Virgílio Loureiro

Com o Prof. Virgílio Loureiro

Fernão Pirão é um termo arcaico e só quem tem muitos anos de poda assim domina estes assuntos.


Enquadramento

A globalização dos gostos

  • Qualidade x identidade

A procura de diversidade

  • Diversidade sem identidade (mais do mesmo)
  • Diversidade com identidade

O caso do “Fernão Pirão”

Gostos e aromas globalizados

Comecemos por observar a tendência do Great Gold médio do Concurso Mundus Vini.

GOSTO GLOBALIZADO

Gráfico elaborado pelo professor Malfeito Ferreira que mostra tendência da evolução de doçura na valorização dos vinhos na Mundus Vini

Perfil Aromático de um vinho de Piemonte premiado

Perfil Aromático

Perfil detalhado da média de vinhos premiados na Mundus Vini

  • Álcool – 14,4º
  • Açúcar – 3,9 g/l
  • Madeira – aroma e boca adocicados
  • Cheiros valorizados – Madeira, frutos vermelhos, cereja, fruta madura
  • Cheiros a evitar – herbáceos, estábulo
  • Boca a evitar – adstringência, amargor

Dados do Concurso Mundus Vini entre 2004 e a Primavera 2014

Onde está o chamado palato Europeu:

Equilíbrio, mineralidade, acidez?
(The Gray Report, US blogger, 2011)

Os clássicos Europeus raramente ganham concursos, devido ao método de prova, no mínimo deviam ser avaliados com comida!

Atualmente é conhecida a procura que os brancos de maceração têm em mercados de nicho como Nova Iorque e Londres.

Mosto de Fernão Pires

Mosto de Fernão Pires

Denominados “Orange Wines“, estão a ser produzidos em países onde nunca se conheceu esta tradição.

Por todo o mundo os depósitos de betão voltaram a ser utilizados, desta vez para vinhos de preço elevado.

Em Portugal, os brancos de talha alentejanos (“os petroleiros”) já têm denominação de origem e a animação cultural à sua volta demonstram como é possível manter uma tradição popular a este interesse cosmopolita.

Fernão Pires em Trás-os-Montes

Fernão Pires em Trás-os-Montes

Diferença pelos aromas

  • Wine coolers ou Blurred wines (mistelas – infusões de vinho com sumos de fruta e aromas)
  • Tentação – juntar aromas artificiais ao vinho (não permitido)

São adicionados aromas tais como ananás, maçã, pêssego, morango, cassis, madeira e muito mais.

Diferença pelo aroma e pela boca

Orange wines, a moda anglo-saxónica mais recente para emoções fortes

O que se fala lá fora sobre o Orange Wine

  • Orange Wine parece urina mas tem gosto de mágica .
    Adam Clark Estes
  • Orange Wine nunca será mainstream, mas um caso para o porquê eles são mais do que uma tendência a morrer
    Anna Lee Iijima
  • Portugal tem o dom de esconder a sua luz debaixo do alqueire.
    Apenas na semana passada descobri que a região do Alentejo apresentou um DOC para o vinho de Talha em 2012 (Novembro de 2015)
    Sarah Ahmed
Orange Wine em copo

Orange Wine em copo

O Fernão Pires ou Fernão Pirão de Almeirim é a casta mias utilizada na região para produzir vinhos brancos.

Na realidade é, como consta em registos, originária da freguesia de Fazendas de Almeirim !!!

A iniciativa e o dinamismo dos produtores ribatejanos rapidamente a tornaram numa casta de eleição.

Um cacho de Fernão Pires

Um cacho de Fernão Pires

Conduzindo à produção de vinhos aromáticos e atraentes ao gosto do mercado global.

Para trás ficou o vinho produzido pelos pequenos fazendeiros, com muito álcool e de uma côr palha carregada, mais ou menos turvo, conhecido popularmente como Fernão “Pirão”.

Vinhos de talha, a identidade alentejana!

  • – Certificados pela CVRA como DOC Talha
  • – Apoiados pelas autarquias e associações locais
  • – Vila de Frades, Amareleja, Granja, Cabeção, …

Vinho-da-talha

A questão deixou de ser a qualidade. Hoje a questão é a identidade!

IDENTIDADE

Uma história sobre a Fernão Pires ou Fernão Pirão

Apontamentos sobre a Fernão Pires

  • 1. Uma das mais disseminadas castas portuguesas, no país e no estrangeiro;
  • 2. A casta branca mais carismática do Ribatejo;
  • 3. Um vinho amarelo citrino, aromático, fresco, para beber jovem;
  • 4. Um branco moderno, muito bem feito com a tecnologia do século XXI, mas… 0,15-0,2 €/kg
Fernão Pires

Fernão Pires a meio de fermentação

O Fernão Pires ou Fernão Pirão de Fazendas de Almeirim

Em Almeirim, parece fácil dar visibilidade a mais um genuíno “Orange Wine” português.

Novamente a Fernão Pires ou Fernão Pirão de Almeirim explicaas suas origens históricas, o seu fabrico e demonstra as suas aptidões gastronómicas.

A “Festa do Fernão Pirão” aproveitando o costume das adiafas ou revitalizando o Cortejo das Oferendas, surge como proposta concreta para valorizar este vinho popular e contribuir para a manutenção deste património único.

Tudo começou aqui, há menos de dois séculos atrás, antes de ser uma vila populosa e progressiva, como é actualmente.

Tudo começou aqui, há menos de dois séculos atrás, antes de ser uma vila populosa e progressiva, como é actualmente.

Tudo começou aqui, há menos de dois séculos atrás, antes de ser uma vila populosa e progressiva, como é actualmente.

FAZENDAS DE ALMEIRIM: Tudo começou aqui, há menos de dois séculos atrás, antes de ser uma vila populosa e progressiva, como é actualmente.

Origem de Fazendas de Almeirim

  • • Desamortização da Tapada e Coutada real;
  • • Início do cultivo da “charneca”;
  • • Obras de enxugo do “campo” (Alpiarçoulo);
  • • Vinhas do campo de grandes proprietários;
  • • Os Ílhavos, Caramelos e Ratinhos faziam o trabalho braçal;
  • • A filoxera destrói as vinhas do “campo” (final séc. XIX);
  • • Aforamento de terras da “charneca” como retribuição do
    trabalho braçal (os proprietários não conseguiam pagar salários);
  • • Começa o negócio do vinho da “charneca”.

A localização das vinhas ao redor das casas (“A Vinha Urbana”) nas Fazendas de Almeirim, na Gouxa ou nos Foros de Benfica.

O Fernão Pires ou Fernão Pirão de Almeirim fermentação com curtimenta em depósitos e lagares de betão

Harmoniza com a sopa da pedra, os ensopados de borrego, as caldeiradas de enguias, ou as pataniscas das tascas alfacinhas, justificam a singularidade destes vinhos.

Um passado recente… ...quando a viticultura era a tempo completo

Um passado recente…
…quando a viticultura era a tempo completo

No entanto, hoje é difícil de encontrar, mesmo entre os fazendeiros que teimam em manter a tradição de fazer vinho em casa.

O Fernão Pires ou Fernão Pirão de Almeirim da Adega

O “Fernão Pirão”Acompanhava
• Feito com uvas da casta Fernão PiresAs festas locais;
• Vinificado de forma tradicional… com “curtimenta”As adiafas, com o ensopado de borrego
• Fermentado a temperaturas elevadas e, em regra, oxidadoAs caldeiradas à borda do Tejo;
• Armazenado em cimento/betãoAs enguias nos Foros de Benfica;
• Alcoólico, acastanhado e com o típico “torradinho”A sopa da pedra em Almeirim…
• Bebido localmente como um tinto
• Tingido com Grand Noir ou Alicante Bouschet (tascas de Lisboa)
• A base do “branco velho”, que acompanhava o peixe frito
• Bebido nos bacalhoeiros que iam para a Terra Nova

GALERIA DE IMAGENS

Paço Real da Ribeira de Muge (dos Negros); Construção em 1512-1514 (D. Manuel I)

Paço Real da Ribeira de Muge (dos Negros); Construção em 1512-1514 (D. Manuel I)

Tapada Real do Paço dos Negros... ...a paisagem provável em meados do séc. XIX

Tapada Real do Paço dos Negros…a paisagem provável em meados do séc. XIX

Os 3.º e 4.º barões de Almeirim… que aforaram / arrendaram terras para criar as Fazendas de Almeirim

Manuel Braamcamp Freire (1863)

Manuel Braamcamp Freire (1863)

Carlos Braamcamp Freire (1875)

Carlos Braamcamp Freire (1875)


Os barcos dos Ílhavos... “...sempre com pé no barco, pé na terra”

Os barcos dos Ílhavos “…sempre com pé no barco, pé na terra”

Imagens do passado... ...quando a vida dos fazendeiros era (muito) difícil

Imagens do passado… quando a vida dos fazendeiros era (muito) difícil

As casas eram térreas… ...e humildes

As casas eram térreas… …e humildes


A “vinha urbana”

A “vinha urbana”

A vinha, a horta e o pomar… ...uma herança do passado

A vinha, a horta e o pomar … uma herança do passado

A vinha de bairro... ...com rega gota a gota

A vinha de bairro … com rega gota a gota

A vinha ainda resiste à construção…

A vinha ainda resiste à construção…


A tradicional poda em talão… ...como os “ílhavos” já faziam no séc. XIX

A tradicional poda em talão … como os “ílhavos” já faziam no séc. XIX

Vindima… ...a festa da família

Vindima…a festa da família

Lagares tradicionais… …onde era feito

Lagares tradicionais…onde era feito

Adega do Sr. Fernão Pires (Almeirim)…

Adega do Sr. Fernão Pires (Almeirim)…

Em suma, o Fernão Pires ou Fernão Pirão de Almeirim, das Fazendas é um caso de popularidade e que resistiu ao tempo e modernização !