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História da Região
Nas suas raízes Vila Nova de Foz Côa encontra o homem paleolítico que, com modestos artefactos, vincou na dureza do xisto ambições e projectos do seu universo espiritual e material, fazendo deste santuário o maior museu de arte rupestre ao ar livre, hoje Património da Humanidade.

circ arq numaoOs vestígios da ocupação humana, mais ou menos intensa, prolongam-se pelos tempos castrejos e romanos. Os escassos testemunhos do período suevo-visigótico e árabe garantem, contudo, a continuidade dos núcleos populacionais. Contrariando as vicissitudes próprias das terras fronteiriças nestas paragens, a vida comunitária revelou-se regular e contínua, a partir do séc. X.

prazo2O interesse régio e senhorial, no sentido de promover o povoamento e desenvolvimento desta região, foi confirmado através da concessão de cartas de foral aos habitantes das povoações, conferindo-lhes importância juridico-administrativa. No Séc. XIX, apesar de ter sido cenário de desordens, de perseguições e lutas fraticidas (a rom3guerrilha dos Marçais espalhou o terror na região) que acompanharam a implementação do liberalismo, a vila de Foz Côa assumiu a liderança do concelho, após vários condicionalismos que justificaram a substituição ou absorção de algumas sedes concelhias, nomeadamente as múltiplas reformas administrativas oitocentistas. Não obstante, os oito pelourinhos que resistem desde então, na área do actual concelho, testemunham a autonomia municipal e são o símbolo da ancestral vida comunitária na Região.

rom4Elevada à categoria de cidade em 12 de Julho de 1997, visitar Vila Nova de Foz Côa é redescobrir a nossa história, é acompanhar o processo milenar que desvenda o património artístico e cultural em complementaridade com a rusticidade e a beleza paisagística que a região encerra e que merece a sua fruição.

CASTELOS

Castelo Melhor

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Considera-se que este castelo tenha sido erguido entre os séculos IX e X, no denominado “período Leonês”. Visto de longe, parece uma coroa de rei plantada num cabeço da terra. A planta é quase circular, rodeando o cabeço onde se encontra implantado. Testemunha silenciosa de um passado milenar, a sua porta é em arco quebrado. No interior do castelo pode ser vista uma cisterna. Quando nele vier a ser feita uma prospecção arqueológica, que se justifica, é bem provável que ali se venham a encontrar diversas estruturas medievais enterradas, bem como uma necrópole tardo-medieval ao longo do pano interior da sua muralha. Impõe-se, por outro lado, por quanto se afigura, que se façam igualmente prospecções arqeológicas na zona exterior envolvente.

Castelo Velho

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Trata-se de um lugar imponente, não apenas como “sítio arqueológico” mas também como miradouro.

Neste espaço têm decorrido campanhas sucessivas de escavação, que já permitiram  estudar a existência de um povoado dos III e II milénios A.C. (Idades do Cobre e do Bronze). Na opinião dos arqueólogos Prof. Drª Suzana Jorge e Dr. António Sá Coixão, ali tanto poderia ter havido um povoado fortificado ou ser apenas um sítio monumentalizado, questões que os investigadores têm vindo a colocar, por enquanto sem uma explicação cabal quanto às funções de tão ancestral símbolo da presença humana na região.

A visita ao local acaba por ser premiada pela beleza e grandeza do panorama que dali se desfruta.

Numão

Em 960, o castelo de Numão pertencia, juntamente com outros, a D. Châmoa Rodrigues que o doou ao convento de Guimarães, através de sua tia, a Condessa Mumadona. Deve, entretanto, ter sido ocupado pelos mouros, pois, segundo alguns, Numão terá sido reconquistado por Fernando I, o Magno, de Leão, em 1055.

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A sua planta é de configuração irregular e quase não apresenta ameias; possui três portas (a do Poente, a do Arco e a de S. Pedro), torre de menagem e mais quatro torres.

O castelo primitivo deve ter sofrido bastante nas lutas com os mouros, levando a que nele se realizassem obras de melhoramento, em 1189, no reinado de D. Sancho I. Vestígio ainda dessa época – século XII – é um Cristo de bronze esmaltado, de Limoges, que pode ser apreciado em Numão e testemunhará a presença de cruzados franceses nas lutas contra o Islão.

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A  Igreja de Santa Maria, construída dentro do castelo e hoje em ruínas, apesar de tantas adulterações sofridas ao longo dos tempos, mostra bem a sua traça românica.

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Extra-muros existe uma Necrópole com sepulturas cavadas na rocha, junto às ruínas da antiga Capela (ou igreja) de S. Pedro.

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É monumento nacional, conforme Decreto-Lei de 16/6/1910.

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Património Arquitectónico e Arqueológico

Se há Municípios com um grande acervo de valores patrimoniais, o de Vila Nova de Foz Côa está entre os primeiros. E se quisermos fazer um pormenorizado inventário do seu património arquitectónico e arqueológico, muitas páginas seriam necessárias. Trata-se de um Concelho formado por vários outros antigos concelhos, a que a Reforma Liberal veio dar a sua actual configuração. Por tal via, a extraordinária monumentalidade dos concelhos extintos agregou-se à da sede do concelho-nuclear – Vila Nova de Foz Côa -, constituindo um conjunto notoriamente invulgar.

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No caso das terras de Foz Côa, que estas possuem, na sua área, os mais raros testemunhos do passado, que têm merecido aprofundados estudos pelos mais distintos arqueólogos, desde as centenas de gravuras rupestres aos lugares onde tem sido possível documentar a multi-secular presença humana. Encontram-se, por exemplo, neste Concelho, já descobertos e classificados, cerca de 195 “sítios” de interesse arqueológico (v. “Carta Arqueológica do Concelho de Vila Nova de Foz Côa”, de António N. S. Coixão – 2ª edição, da CM – 2000).

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Castelos, castros,  igrejas, capelas, pelourinhos, solares, pontes e estradas romanas, fazem só por si uma relação que dignifica qualquer concelho. Bastará olhar para a enumeração que se segue, na qual se não esgotam todos os valores do Concelho. Aqui teremos excelentes sugestões para umas visitas a  todas as freguesias, cujos naturais, a par das riquezas que querem que apreciemos, são suficientemente hospitaleiros para nos deixarem agradáveis recordações.

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Almendra

– Ruínas de Calábria, Caliábria ou Calábriga;
– Igreja Matriz (séc. XVI);
– Solar dos Viscondes do Banho (barroco);
– Casa dos Condes de Almendra;
– Pelourinho;
– Igreja da Misericórdia (séc. XVI).

Castelo Melhor

– Castelo (do período Lionês);
– Gravuras rupestres paleolíticas da Penascosa.

Cedovim

– Casa Grande (estilo barroco);
– Pelourinho;
– Capela de S. Sebastião.

Chãs

– Gravuras rupestres paleolíticas da Quinta da Barca;
Custóias

– Capela de N.ª Sra. da Graça (raiz românica).
Freixo de Numão

– Igreja Matriz (de raiz românica);
– Solar Da Casa Grande (barroco) com museu de

Etnografia e ruínas arqueológicas;

– Capela de N.ª Sra. da Conceição (1654);
– Capela de Sto. António (1622); Santa Bárbara (capela roqueira);
– Pelourinho (1789) ex-Domus Justitiae/1601)/; ex – Domus Municipalis (barroco, com armas de D. Maria I);
– Arquitectura rural;
– Complexo Arqueológico (Castelo Velho, povoado do Calcolítico e Bronze);
– Prazo, ruínas neolíticas, romanas e medievais;
– Calçada romana, entre outros.

Horta

– Povoado pré-histórico do Castanheiro do Vento;
– Pelourinho.

Mós

– Solar dos Assecas (com pedra de armas).

Murça

– Igreja Matriz;
– Bairro do Casal (arquitectura rural) com a Capela de S. João (séc. XVII).

Muxagata

– Cruzeiro (cúpula piramidal); Fonte da Concelha (séc. XVI);
–  Solar dos Donas Boto (séc. XIX);
–  Igreja Matriz;
– Pelourinho e antiga casa da Câmara e Tribunal;
– Gravuras rupestres paleolítico da Ribeira de Piscos;
– Museu e ruínas da Quinta de Santa Maria.

Numão

– Castelo (de raiz anterior á Nacionalidade);
– Igreja Matriz; Capelas de Sta. Eufêmia e Sta. Teresa;
– Casas judaicas;
– Sepulturas antropomórficas no Castelo;
– Inscrições rupestres romanas do Areal, Telheira e Conde (Ribeira Teja; lagares   romanos no Arnozelo.

Santa Comba

– Fonte da Mó (1829);
– Arquitectura rural (séc. XVIII).

Santo Amaro

– Arquitectura rural.

Sebadelhe

– Solar dos Donas Boto;
– Brasão da família Sampaio e Melo;
– Capela de S. Sebastião;
– Igreja Matriz; Fonte de cima (Cúpula piramidal, séc. XVIII); Fonte de Baixo       (com  brasão).
Seixas
– Igreja Matriz;
– Solar dos Aguilares (barroco);
– Fonte dos cântaros;
– Castelo Velho (Bronze e Ferro).

Touça

– Pelourinho;
– Casa dos Albuquerques;
– Forno comunitário da telha;
– Arquitectura rural.

Vila Nova de Foz Côa

– Igreja Matriz (fachada manuelina);
– Pelourinho (manuelino);
– Caza Municipal;
– Capela de Sta. Quitéria (provável antiga sinagoga);
– Casa dos Andrades (com pedra de armas);
– Torre do Relógio, no sítio do Castelo;
– Capelas de S. Pedro e Sta. Bárbara;
– Capela de Sto. António (estilo barroco);
– Gravuras paleolíticas da Canada do Inferno;
– Gravuras paleolíticas da idade do ferro em Vale Cabrões e Vale José Esteves.

Almendra

História

tb_100699_p1cNo termo de Almendra encontram-se já inventariados alguns sítios de ocupação pré-histórica, designadamente o da Ribeirinha, com arte rupestre e abrigo do III milénio a.C.; o Poio do Silveiral, com habitat pré-histórico e o Cabeço do Fumo com vestígios do Calcolítico.

49221As origens de Almendra devem remontar à Idade do Ferro. O que é hoje a área envolvente da Igreja Matriz, deve ter-se constituído como núcleo fortificado no I milénio antes de Cristo. Numa área para Norte da mesma Igreja, no denominado «Chão do Morgado», consta ali ter existido um castelo ou fortificação que muitos dizem ser medieval ou tardo-medieval (a exemplo do castelo de Foz Côa). Muitos vestígios de pedra de aparelho, fragmentos de tégula, imbrices e dolium, certificam ali a existência de uma provável «Villa Romana» senão de uma «vicus». Outros vestígios de Villae romanas ou simples casais encontram-se espalhados pelo termo de Almendra.

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A partir do Paleocristão poderia um templo pagão (Romano) ter dado lugar a um templo cristão, a uma pequena igreja sita no mesmo local onde se encontra hoje implantada a Igreja Matriz (aliás com traça muito mais antiga que a data que ostenta por cima do portal). As lacunas documentais são muito grandes e só algumas campanhas de escavação arqueológica no imenso adro poderão dar luz sobre as origens e estádios de fixação e, ou, povoamento.

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Almendra, topónimo nitidamente árabe, quererá dizer-nos que teve, em certo período da história, fixação daquela gente infiel aos ideais cristãos? Qual o topónimo da terra antes da presumível influencia árabe? Talvez nunca o saibamos!

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Nótulas Históricas

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Ainda que subsistam algumas dúvidas é normalmente aceite como certa a localização da antiga Caliábria nas imediações de Almendra. Tal facto leva-nos a acreditar que aqui existiria uma das mais antigas comunidades cristãs. A Caliábria era, em 569, paróquia ela diocese de Viseu. Nos alvores do século VII, durante o período visigótico, constituiu-se um bispado que virá pouco depois com as invasões árabes a desaparecer, tendo passado a sua cadeira episcopal a Ciudad Rodrigo. O seu último bispo S. Zenão teria sido morto pelos árabes cerca de 717.

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Dos calabrienses célebres conhece-se o cruzado Bertoldo, fundador da Ordem dos Carmelitas. A existência da sede de um bispado é uma prova evidente que a região alcançou ao longo do século VII grande importância social e económica com as correspondentes trocas comerciais e culturais que tal facto acarretava.

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Curiosamente, Almendra e Castelo Melhor, mesmo após terem passado para a posse de Portugal com D. Dinis, permaneceram em termos espirituais dependentes de Leão, uma vez que o bispo de Ciudad Rodrigo manteve o domínio espiritual sobre a região de Cima-Côa até 1404.

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Em 960, o Castelo de Almendra pertencia a D. Chama ou Châmoa que o entregou à Condessa Mumadona, sua tia, fundadora do convento vimaranense. No século seguinte, em 1059, o castelo de Almendra continuava ainda a pertencer ao mesmo mosteiro. Nos fins do século XII muda de proprietário, surgindo, em 1183, entre os bens da Ordem Militar do Pereiro, numa Bula do Papa Lúcio III.No século seguinte, por volta de 1270, Almendra já era vila e foi doada a D. Gil Martins, pai de D. Martim Gil, mais tarde alferes-mor de D. Dinis.

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O estatuto de vila não constituiu na época um título pacífico, uma vez que, quase de imediato, em 1298, o concelho de Castelo Rodrigo irá contestar a sua autonomia, em virtude de a considerar parte integrante do seu termo. Segue-se um período de conflito entre Castelo Rodrigo e D. Gil Martins, que irão recorrer alternadamente das sentenças do monarca. Finalmente, em 1312, Castelo Rodrigo obtém uma sentença favorável que lhe permitiu englobar de novo Almendra no seu termo. A integração no termo de Castelo Rodrigo durará, no entanto, apenas algumas décadas, pois ainda no século XIV retomará a sua condição de concelho. Em 1358, D. Pedro I confirma-o, acto repetido por D. Fernando em 1367 ao ratificar os foros e privilégios Almendrenses. O mesmo monarca, pouco depois, em 1370, reintegrará Almendra no concelho de Castelo Rodrigo, mas denominando-a, contudo, de julgado, o que pelo menos indica a existência de jurisdição própria ainda que sob juiz de nomeação régia.

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Em 1383 recobrou a sua autonomia, que será confirmada por D. Afonso V, em 1449, mas agora sob a designação de concelho de Almendra e Castelo Melhor. O mesmo monarca D. Afonso V, tendo em conta um pedido que lhe foi feito, irá autorizar, por carta de 6 de Junho de 1441, a realização de uma feira anual com a duração de 3 dias, da véspera de Santa Maria, em Setembro, até ao dia imediato. D. Manuel I concedeu foral novo a Almendra em 1 de Junho de 1510.

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Almendra deve ter mantido a sua importância ao longo do século XVI, ou talvez o tenha mesmo visto aumentar. Por exemplo, só durante o reinado de D. João III foram passadas 13 cartas a nomear outros tantos tabeliães. É ainda ao longo deste século que são construídos alguns dos principais edifícios religiosos. Nos séculos XVII e XVIII foram seus donatários os Condes de Castelo Melhor, que eram inclusivamente proprietários dos ofícios públicos e tinham ainda poder para fazer eleições e confirmá-las.

Ainda no século XVIII surge o partido médico local, proporcionando melhores condições de combate à doença entre os Almendrenses. Finalmente, em 1855 extinguia-se o concelho de Almendra, na época composto pelas freguesias de Castelo Melhor, Algodres, Vilar de Amargo e a própria freguesia de Almendra.

Fontes: António N. Sá Coixão e António António R. Trabulo, Por Terras do concelho de Foz Côa – Susídios para a sua História – Estudo e Inventário do seu Património, Vila Nova de Foz Côa, Câmara Municipal de Vila Nova de Foz Côa, 2ª edição – 1999., CM Vila Nova Foz Côa